O génio criativo do nosso país ofereceu um novo desporto à Europa e ao mundo: o "tunebol". Explico. Quando as duas equipas de futebol se encontram nos túneis que ligam os balneários ao relvado, após provocações de figuras contratadas para o efeito, inicia-se uma cena de pancada entre os jogadores.O vencedor será aquele que não reagir e que, portanto, mais pontapés e murros levar. Convém lembrar que o "tunebol" está limitado aos clubes que lutam pelo título nacional. Ou seja, quem chegar a Dezembro/Janeiro em condições de ser campeão, participa no "mini-torneio" de "tunebol", para se clarificarem posições para a segunda metade da época. O campeão do "tunebol" ficará numa óptima situação para ganhar a liga.De acordo com o seu estatuto de clube com mais títulos em Portugal, este ano o campeão do "tunebol" foi o Benfica.
E não julguem que foi fácil. Exigiu muito trabalho e uma fina psicologia por parte de Jorge Jesus. Foi necessário repetir vezes sem conta, desde o início da época, aos seus jogadores: "se levarem um murro, dão a outra face para levarem um estalo". Imaginam o que deverá ter custado aos seus jogadores ouvirem, "se o Sapunaru te der um pontapé, vira a outra nádega para o Hulk te dar outro"; ou "se o Mossoró te der um estalo, dás a outra face para o Vandinho te dar um murro". E resultou.Os jogadores do Benfica tornaram-se um exemplo de boa educação, de auto-controlo e de pacifismo. São já um exemplo para toda a Europa. Houve mesmo um jornal inglês que afirmou: a "Inglaterra deu o 'greenpeace' ao mundo; e o Benfica deu o 'redpeace'". Contaram-me que nas paredes do balneário, há cartazes do Dalai Lama por todo o lado. O presidente do Benfica estará a pensar convidá-lo para assistir ao jogo do título, para o apresentar como a grande inspiração da "nação pacifista". Já há mesmo quem diga que a única maneira do Sá Pinto e do Bruno Alves se emendarem é através de um estágio na Luz.
Mas o "tunebol" não se fica pelos provocadores e pelos jogadores; exige igualmente membros na Liga de Futebol com "olho de falcão", como se costuma dizer no nosso país. Pensam que é fácil olhar, através de gravações, para um molho de dez jogadores e vinte braços e perceber que foi o Hulk ou o Vandinho os únicos a agredirem. Experimentem ver as imagens e vejam se é fácil. Por fim, não há datas para terminar o mini-campeonato do "tunebol". Se um dos olhos de falcão voltar às imagens daqui a três meses e perceber que afinal o Helton, ou o Hugo Viana também agrediram, far-se-á então justiça. Nunca é tarde para punir quem bate. "Glorioso, glorioso, nos túneis és poderoso"; eis o novo grito das claques benfiquistas"
João Marques de Almeida, Professor universitário, in Diário Económico "
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
domingo, 14 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
O "caso Crespo" e a liberdade
‘O primeiro-ministro resolveu almoçar com o ministro da Presidência e Jorge Lacão no restaurante do Hotel Tivoli, que é notoriamente frequentado por personagens da política, do jornalismo e dos negócios. Foi um almoço de amigos ou, pelo menos, de colegas de trabalho. Sem qualquer dúvida um acto privado. A certa altura, o director da SIC e Bárbara Guimarães pararam uns minutos na mesa dele e o primeiro-ministro, provavelmente inspirado pela companhia, resolveu dar a sua opinião sobre Mário Crespo, com quem anda com certeza furioso por causa do programa Plano Inclinado. Para Sócrates, como seria de esperar, Mário Crespo é um “problema a resolver”, e devia (com Medina Carreira) estar higienicamente metido num manicómio. As pessoas sempre falaram assim na intimidade. Dizer mal do próximo é um prazer velho como o homem
Mas Sócrates falou alto de mais. Tão alto que um coscuvilheiro qualquer conseguiu ouvir e começou a divulgar a conversa, ninguém sabe, ou pode saber, com que exactidão e respeito pela verdade. O que não impediu Mário Crespo de se erigir tragicamente em vítima e de contar o episódio numa “coluna” do Jornal de Notícias, que o director do dito jornal (que não é em bom rigor um tablóide inglês) se recusou a publicar. Isto provocou um enorme escândalo na imprensa e na televisão, que tomaram indignadamente o partido de Crespo e trataram Sócrates como se não houvesse a menor diferença entre o restaurante do Tivoli e a Assembleia da República. Não se percebe porquê. Parece que o primeiro-ministro não tem direito à privacidade ou que de repente a coscuvilhice se tornou numa fonte fidedigna e usável.
Se de facto assim é, daqui em diante nenhuma personagem com alguma notoriedade pública fica ao abrigo dos piores vexames. Nada agora, eticamente, impede que a imprensa e a televisão recrutem bandos de espiões com o propósito de recolher ou “extrair” todo o lixo disponível sobre criaturas de quem não gostam ou que, em geral, atraem audiências: políticos, músicos, jogadores (ou treinadores) de futebol e até, calculem, jornalistas. Claro que o exemplo vem de cima: vários deputados do PS já querem revelar na Net os rendimentos de cada um de nós. Tarde ou cedo, mais cedo do que tarde, vamos viver numa sociedade ao pé da qual a Ditadura passaria por um regime tolerante e digno. O “caso Mário Crespo” contribuiu consciente ou inconscientemente para apressar as coisas. Portugal nunca, no fundo, se habituou à liberdade.’
Por Vasco Pulido Valente
Mas Sócrates falou alto de mais. Tão alto que um coscuvilheiro qualquer conseguiu ouvir e começou a divulgar a conversa, ninguém sabe, ou pode saber, com que exactidão e respeito pela verdade. O que não impediu Mário Crespo de se erigir tragicamente em vítima e de contar o episódio numa “coluna” do Jornal de Notícias, que o director do dito jornal (que não é em bom rigor um tablóide inglês) se recusou a publicar. Isto provocou um enorme escândalo na imprensa e na televisão, que tomaram indignadamente o partido de Crespo e trataram Sócrates como se não houvesse a menor diferença entre o restaurante do Tivoli e a Assembleia da República. Não se percebe porquê. Parece que o primeiro-ministro não tem direito à privacidade ou que de repente a coscuvilhice se tornou numa fonte fidedigna e usável.
Se de facto assim é, daqui em diante nenhuma personagem com alguma notoriedade pública fica ao abrigo dos piores vexames. Nada agora, eticamente, impede que a imprensa e a televisão recrutem bandos de espiões com o propósito de recolher ou “extrair” todo o lixo disponível sobre criaturas de quem não gostam ou que, em geral, atraem audiências: políticos, músicos, jogadores (ou treinadores) de futebol e até, calculem, jornalistas. Claro que o exemplo vem de cima: vários deputados do PS já querem revelar na Net os rendimentos de cada um de nós. Tarde ou cedo, mais cedo do que tarde, vamos viver numa sociedade ao pé da qual a Ditadura passaria por um regime tolerante e digno. O “caso Mário Crespo” contribuiu consciente ou inconscientemente para apressar as coisas. Portugal nunca, no fundo, se habituou à liberdade.’
Por Vasco Pulido Valente
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